A Descoberta

Sou adito ao sexo. E como tal, antes de iniciar o caminho de recuperação pude observar em primeira mão a minha doença a progredir e cada vez mais afetar a minha vida. Hoje carrego memorias de situações de abuso, situações de risco de doença física, perca de amigos e afastamento da família e períodos de grande tristeza, desespero e isolamento, que acompanhavam os picos de sexo compulsivo. Teria já tentado a recuperação com apoio da psicologia, auto sanções perante o uso, diários de escrita de recuperação, mas recaia sempre na adição ao sexo que escalava na frequência e intensidade de uso. Foi por considerar que sozinho não conseguia e não consigo enfrentar a minha doença que fui à primeira reunião de adictos ao sexo anónimos. As reuniões foram uma viragem no percurso. Com as reuniões conheci outros companheiros e companheiras que partilham a mesma doença que eu. Fui ajudado e guiado para iniciar o trabalhar dos 12 passos de recuperação, a trabalhar a honestidade e ajudado a enfrentar os medos. De fato a minha verdadeira recuperação iniciou se na primeira reunião de adictos ao sexo anónimos, mas prolonga-se diariamente num trabalho continuo dos passos, na leitura de literatura e contacto diário com outros companheiro(a)s em recuperação. Em recuperação apercebi-me a que a minha a adição ao sexo não era a única manifestação da minha personalidade compulsiva, mas que também tinha problemas com o estudo compulsivo, o desejo de poder e de controlo, a procrastinação, o egoísmo, a negligencia das necessidades dos outros, a codependência, a fuga e um grande medo de me relacionar com os outros, se não fosse de uma forma sexual. Em recuperação digo que aprendi que a minha doença tem várias formas para as quais eu aprendi a estar em constante auto monitorização, para conseguir diariamente estar em contacto com o meu poder superior e com os outros e não me isolar na adição. Hoje, estou no centésimo dia de abstinência dos meus padrões de adição ao sexo. O maior período de tempo em recuperação que já estive. Quanto mais tempo passo em recuperação e mais consciência ganho, mais descubro o quanto ainda me resta aprender sobre mim próprio, sobre os outros e sobre a minha adição, e por isso volto as reuniões. Por hoje, desejo acima de tudo continuar abstinente. Nos restantes dias, que este desejo e prática de recuperação se multipliquem infinitamente.

G.

Mais do que tudo o que alguma vez sonhei

O meu nome é André. Tenho 30 Anos.

Desde miúdo que sempre me senti um pouco “à parte”. Lembro-me de até no infantário, acontecerem determinadas situações que me deixavam num estado alterado. A maneira como me dava com os outros miúdos, e com o mundo ao meu redor, era impactante o suficiente para ainda hoje me recordar de alguns episódios.

À medida que fui crescendo, entrando na puberdade, acabei por criar hábitos que sempre me acompanharam, como o uso de pornografia, voyeurismo, masturbação e prostituição. Na altura não lhes ligava muito, no fundo toda a gente o fazia, e eu não me preocupava. Achava normal e até saudável.

Os anos foram passando e eu percebi que talvez não fosse como as outras pessoas. Talvez levasse esses hábitos e experiências um pouco mais longe. Até gostava de olhar para mim assim. Como aquele que de alguma forma “puxava os limites, “ia onde os outros não se atreviam a ir”, mas a pouco e pouco comecei a sentir as repercussões dos meus actos. A minha mente não parava. Não conseguia estudar, não consegui ter uma relação fiel, não conseguia parar os meus rituais, não tinha uma relação nada saudável com os meus pais, tinha picos de raiva constantes, e com o passar do tempo as coisas foram escalando. Passava muito tempo na internet, e no seguimento dessas sessões, comecei a marcar encontros. O que levou a uma situação de abuso quando tinha pouco mais de 14 anos.

Aquilo marcou-me. Ficou impresso na minha pele para sempre. E estranhamente ao que seria de esperar, isso não me abrandou. Fiquei traumatizado com a experiência, mas por outro lado fugi para a frente, apoiado nos meus “rituais” e outros comportamentos que se tornavam cada vez mais desviantes. Não me queria confrontar nem por um segundo.

Continuei a experienciar, a ir mais longe, a desafiar os limites. Precisava. Era como se fosse a gasolina dos meus dias, o que me fazia sentir que conseguia lidar com o mundo, e que, depois de usar esforçava por esquecer rapidamente para não ser assaltado pela minha consciência.

Tornou-se um padrão demasiado forte e importante na minha vida para eu prescindir dele. Mas eu não o via assim. Desculpava-me, negociava, comparava-me com outros piores, e ía andando. Swing, orgias, encontros com desconhecidos, voyeurismo, pornografia, etc… Essa era a minha segunda vida.

Entrei numa relação perto dos 22 anos. Adorava a pessoa. Estava saturado de não ter relações saudáveis e duradouras. Tentei tudo para ser fiel. E foi aí que começou o início do fim.

Para não trair a pessoa o voyeurismo e outros comportamentos intensificaram-se. Comecei a fazer coisas que até então achava impensáveis. Tentar espreitar os meus vizinhos, sair á noite para ver casais a terem relações, espreitar pessoas na rua, espiar pessoas, etc. Foi o meu fundo do poço. Desde miúdo que pensava em suicídio e ali intensificou-se. Perdi quase tudo.

Já não conseguia funcionar, já não conseguia estar na sociedade como uma pessoa normal. De fora, ninguém notava muito, pois eu fazia um esforço titânico para o esconder, mas os que estavam mais perto de mim percebiam que havia algo de errado. Uma ansiedade e desassossego constantes. Os consumos intensificaram-se, até que chegou a um ponto em que tive de pedir ajuda.

Estou há 3 anos em recuperação nesta área. O que recuperei em 3 anos é um milagre. A minha vida mudou e hoje sou um ser muito mais livre. O que tive de retorno por entrar em recuperação ultrapassou tudo o que alguma vez sonhei. Pensava que tudo se iria tornar enfadonho e sem interesse. Bem pelo contrário, hoje caminho pela rua sem medo, hoje tenho relações verdadeiras na minha vida, com amigos e projectos. Hoje, sou muito mais livre.

Investir em mim, foi a melhor coisa que alguma vez podia ter feito.

Um pequeno milagre

Apesar de também ser alcoólico e ter deixado de beber alcool há 22 anos, nunca me senti tão sóbrio como nos últimos 30 dias de abstinência dos meus padrões de adicção ao sexo.

A abstinência de um padrão que me levantava dúvidas: a masturbação, representou para mim toda a diferença. Foi a abstinência desse padrão (juntamente com todos os outros), que causou em mim a sensação de sobriedade e de contacto verdadeiro com a realidade, sem nenhuma droga ou comportamento que me anestesiasse. O resultado disto foi o confronto com realidade tal como ela é, com as dores que isso implica, mas também com a noção recentemente adquirida, de que afinal é possível enfrenta-la sem recorrer aos meus padrões de adicção ao sexo, ou a qualquer outra droga. Mais: A abstinência mostra que afinal a vida assim fica mais fácil e não mais difícil.

A ideia (por muito inconsciente que fosse) de que precisava de me anestesiar para poder suportar a realidade (que era no fundo o que suportava a minha adicção), revelou-se assim um “flop”.

Com apenas um mês de abstinência já me foi permitido vislumbrar este pequeno milagre. Aguardo pelos próximos…

P.

Membro do Grupo

Juntos conseguimos!

Em 2003 encontrei pela primeira vez alivio da compulsão de certas praticas destrutivas sexuais, depois ter usado “sexo como uma droga”, que praticava desde os meus 13 anos de idade. Hoje tenho 46 anos. Somente encontrei um novo estilo de vida através da Irmandade de 12 Passos de Adictos ao Sexo Anónimos. Graças a esta Irmandade e aos seus membros, hoje consigo ter uma vida com uma perspectiva positiva e desta forma hoje posso partilhar este novo modo de vida com outros adictos ao sexo que ainda sofrem desta doença. Estou livre de comportamentos compulsivos há mais de 17 meses e eternamente Grato a SAA Portugal.

T.

Membro do Grupo

Finalmente percebi que não estou sozinho

Ainda não estou há muito tempo envolvido na irmandade, no entanto tenho pela primeira vez na minha vida a certeza que o meu passado não era saudável e sem dúvida era um travão à minha e à felicidade dos outros!

Sempre achei que a compulsão de fantasias e comportamentos (acting out) ocupava muito espaço na minha maneira de ser, agir, sentir e envolver-me com a sociedade, família e antes de mais comigo mesmo!

Achei sempre que a sexualidade era a principal fonte da minha personalidade aditiva e o consumo/abuso de substâncias químicas, álcool, comida e pessoas pelo qual tinha passado eram consequências do meu sentimento de culpa, da minha vergonha e de uma baixa auto-estima! Sem dúvida que hoje estou num processo de auto conhecimento que me dá certeza disso!

Se hoje me consigo manter ABSTINENTE de certos hábitos, noto uma diferença enorme no meu SER, e um crescimento espiritual que não quero mais dar em troca para estar mais ligado e honesto comigo e com a vida! Sinto me profundamente grato aos companheiros e um a um ser superior a mim mesmo em que acredito que é possível ter uma relação com a sexualidade e terceiros em sobriedade e amor!

Um dia de cada vez feliz de ter encontrado uma solução no saaportugal.org

P.

​Membro do Grupo

Uma luz ao fundo do túnel

Sou o Antunes, e sou um adito ao sexo em recuperação. Entrei nas reuniões de SAA por desespero. Foram 23 anos de pornografia seguida de masturbação recorrente. Passei também a frequentar prostitutas. Todo este acting out durante estes anos todos levou-me a uma profunda depressão e à perda de auto estima, bem como a adquirir problemas de ansiedade. Tive perdas significativas de dinheiro. Outro problema que tinha era o medo constante de apanhar doenças. Estou abstinente há cerca de um mês e uma semana, e sinto melhorias bastante significativas ao longo deste pequeno período. Sinto me com mais vontade de viver e melhor comigo.

Sei que, no entanto, tenho um longo trabalho a fazer, nomeadamente os passos e a frequência das reuniões. Mas sinto que vale a pena deixar a adição uma vez que a vida começa a fazer sentido.